Descoberta de lago na Antártida pode ajudar a encontrar vida extraterrestre
Moscou, 15 fev (EFE) - A descoberta do lago Vostok,
localizado na Antártida e que fica a quatro mil metros sob o gelo, é o
primeiro passo para encontrar vida em outros planetas, como Marte, onde
as condições são parecidas com as do continente gelado, disse à Agência
Efe o chefe da expedição antártica russa.
Na estação russa de
Vostok, a temperatura chega a 89,2 graus negativos, e em Marte é de 90
graus abaixo de zero", afirmou Valery Lukin, subdiretor do Instituto de
Pesquisas Árticas e Antárticas (IIAA).O
cientista russo destacou que "os equipamentos usados para perfurar o
gelo que cobria o lago e desenhados com esse único fim pelo Instituto de
Engenharia de Minas de São Petersburgo foram um sucesso, por isso essa
tecnologia poderia ser utilizada agora para explorar outros planetas"."O lago da vida", como foi batizado pela comunidade científica, e que
tem cerca de 300 quilômetros de comprimento, 50 quilômetros de largura e
quase mil metros de profundidade em algumas regiões, pode ter a água
mais pura do planeta, espécies desconhecidas ou muito antigas" . Não temos
provas concretas, mas sim informações de que a superfície é estéril,
apesar de esperarmos encontrar formas de vida como termófilos e
extremófilos (microorganismos que vivem em condições extremas) no fundo
do lago", comentou
Lukin revelou que a expedição russa, cujas perfurações demoraram mais
de 20 anos para alcançar a superfície do lago, encontraram "rastros do
DNA de termófilos" a 3,6 quilômetros de profundidade, por isso é
provável que haja vida nessa massa de água líquida formada há 40 milhões
de anos.
"Se não encontrarmos nada, isso também seria uma descoberta. Mas se
acharmos algum organismo, poderemos estudar a evolução de espécies que
não tiveram nenhum contato durante milhares de anos com a atmosfera
terrestre", disse.
O cientista também está convencido de que o Vostok será um "polígono
promissor" para estudar as zonas polares de Marte e o satélite de
Júpiter, o Europa, que abriga uma camada de gelo e, possivelmente, água.
"E se houver água, significa que também pode haver vida", disse, citado pelas agências russas.
De acordo com Lukin, os resultados da investigação no lago serão
fundamentais também para o estudo da mudança climática na Terra durante
os próximos séculos, pois o Vostok foi e continua sendo uma espécie de
termostato isolado do resto da atmosfera e da superfície da biosfera.
Vários expedicionários russos vão hibernar na estação, mas ninguém tocará o lago até dezembro, quando a expedição será retomada.
"Se tudo correr bem, traremos amostras de água congelada à Rússia em
maio de 2012. Aí saberemos se o Vostok é o lar de novos microorganismos,
bactérias ou nada", disse.
O chefe da expedição antártica reconhece que alguns cientistas
ocidentais se mostraram "céticos" com a descoberta e com o risco de que
os russos infectem o lago, saturado de oxigênio com níveis de
concentração 50 vezes superiores aos da água doce.
Os russos desenharam uma máquina dragadora térmica que utiliza fluido
de silicone não contaminante depois que a secretaria do Sistema do
Tratado Antártico pôs impedimentos à expedição russa por temer a
contaminação do lago com o querosene usado pela perfuradora.
"Nem tudo se faz com dinheiro. Sem conhecimento, entusiasmo e
capacidade, é impossível. Tenho certeza de que nem a revista britânica
'Nature' nem a americana 'Science' publicarão nossas conquistas, mas
isso não importa", declarou.
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